sexta-feira, 2 de julho de 2010

Minha alma me chama

MINHA ALMA ME CHAMA
por Tania Paupitz de Souza - tania.paupitz@gmail.com


Fazer o que se gosta, ser sincero consigo mesmo, ter prazer em estar no lugar e na hora certa, sentir uma alegria interior, porque a nossa alma é como uma criança que canta, ri, chora até ficar esgotada, vibra de alegria, sofre pelo que parece um martírio, observa e tudo vê.

Quantas vezes você não se questionou: o que estou fazendo aqui nesse lugar que não me diz absolutamente nada, com pessoas que não têm nada a ver comigo? Muitas vezes, podemos ficar irritados, indispostos e até mal humorados, sem estarmos conscientes desse mal estar. Ir contra si mesmo é como estar mentindo, enganando a única pessoa que deveríamos acima de tudo confiar e amar: nós mesmos.

Algumas vezes, posso me violentar e fazer algo do qual não gosto, mas em função do outro acabo abrindo mão, cedendo e indo contra minha alma, que naquele momento, talvez, quisesse estar fazendo algo completamente diferente...
E daí vem o questionamento: Será correto ir contra mim mesmo, contra os meus sentimentos, pensamentos, para agradar ao outro?

Esta é uma resposta muito pessoal e questionável, porém, também temos que aprender a respeitar e valorizar os desejos do outro, principalmente quando vivemos juntos com outra pessoa. Aprender a dividir, compartilhar mesmo aquilo que não gostamos, ou não nos traz muita satisfação, também deve fazer parte desse contexto, quando se refere ao relacionamento a dois.

Quem assistiu ao filme "Conversando com DEUS", baseado no livro de Neale Donald Walsch, pode observar que tem um diálogo onde “Deus” conversando com o ator diz: “Como pode pensar em ganhar a vida com algo que não gosta de fazer? Isso não é viver, isto é morrer”.
Muitas vezes, estamos sendo levados pela correnteza da vida, sem saber se estamos mortos ou vivos, pois acabamos morrendo a cada dia, fazendo coisas e estando com pessoas que não queremos estar.

Viver uma inverdade, estar dentro de um relacionamento insatisfatório, estar infeliz no seu emprego, todas estas situações maltratam e desvalorizam a nossa alma.
Então nada mais justo do que sermos, vez por outra, honestos conosco e nos questionarmos, sobre o que gostamos, precisamos e, o que realmente nos deixa felizes?

A oportunidade para a mudança ocorre através das pequenas diferenças que vão surgindo dentro de nossa percepção, ampliando-se à medida que percebemos o bom para nós, ou aquilo que nos deixa feliz.
Esse estado de espírito pode ser simplesmente observar uma flor, um lindo pôr do sol, escutar aquela música que nos enleva ou até mesmo tomar um sorvete acompanhado de nosso cachorro na sorveteria da esquina. As pequenas coisas, na maioria das vezes, são aquelas que nos trazem mais felicidade.

Mas, como capturar e segurar para sempre esse momento, que somente a nossa alma é capaz de fornecer? Que tal a gente dar uma parada e começar a se perguntar onde ou em que momento abandonamos a nossa alegria de viver? Será que ficamos parados no tempo, em algum lugar do passado ou será que simplesmente a ignoramos e passamos a viver através do nosso EGO? A nossa mente é fantasiosa e ilusória e se nos deixarmos levar por ela, com certeza, acabamos por deixar nossa alma para trás.

Precisamos descobrir dentro de nós mesmos, que para estarmos bem e felizes com o outro, precisamos estar em primeiro lugar bem com a nossa alma. Como poderemos ajudar alguém, se não sabemos como ajudar a nós mesmos?
Partindo dessa premissa, percebemos que estamos sempre fazendo o caminho inverso.
Investimos no outro e esquecemos de nós...

Ajudamos, educamos, amamos, entregamos nossa alma por alguém ou até mesmo por uma causa, porém o preço que se paga em geral torna-se caro demais, advindo então o vazio e a solidão tão comumente discutidos hoje em dia. É onde muitas vezes surge a pergunta: E eu? O que eu fiz da minha vida? Cadê a minha alma, a minha vontade, o meu amor, o meu carinho, respeito e a admiração que deveria ter por mim mesma?

Resgatar a própria alma começa com um processo de auto-educação, que, aliás, deveria ser passado por pais e educadores dentro das próprias escolas, estimulando as crianças desde cedo, para o auto-amor, incentivando dessa forma o respeito, o carinho, a consideração por si mesmos. Somente assim, quem sabe, teríamos hoje pessoas adultas, mais felizes, equilibradas emocionalmente e realizadas dentro de suas próprias vidas.

Aprendendo atraves da Dor

Aprendendo através da dor
por Tania Paupitz de Souza - tania.paupitz@gmail.com


Outro dia, olhando meus e-mails, deparei-me com uma mensagem muito bonita de Divaldo Franco, que dizia o seguinte: “O sofrimento é a presença do amor ausente. Quando não amamos vem à dor para despertar-nos”.

Confesso que um dos motivos desta frase ter me chamado bastante atenção, deve-se ao fato de estar passando por uma fase bastante difícil, após uma queda e posterior fratura do tornozelo.
Após a cirurgia e, agora em fase de recuperação, poderia, literalmente, afirmar que estou reaprendendo a andar em todos os sentidos. Quando não andamos de acordo com a vida, ela vem nos trazer algum tipo de aprendizado, para que possamos ser recolocados novamente nos trilhos...

Todos nós já ouvimos em algum momento da nossa vida, certo tipo de comentário com relação ao sofrimento: dizem que o sofrimento enobrece, fortalece o nosso espírito, trazendo-nos aprendizados, etc. Torna-se comum, quando estamos passando por algum tipo de desconforto, darmos início a um processo interno de questionamentos, analisando as pessoas com as quais estamos envolvidos, nossa postura perante a própria vida, atitudes, sentimentos gerados e marcas causadas, para que num tempo relativamente curto toda essa situação possa ser de fato bem assimilada e aceita. Dentro de todo este contexto, quando conseguimos enxergar a própria dor como uma grande aliada e não como uma inimiga, retornamos de fato a sua origem, trazendo desta forma, uma nova visão e compreensão da mesma.

E dentro de tantos questionamentos, quando nossa dor chega no limite do insuportável, podemos estar nos fazendo alguns questionamentos: Por que comigo? Será que eu mereço? O que eu fiz para acontecer tal fato?
Neste instante, alguns podem alternar entre a revolta e a compaixão.

A compaixão nos confere a capacidade de nos sintonizarmos com outras pessoas que também passam por sofrimentos, muitas vezes, bem maiores do que os nossos e, ao deixarmos a necessidade básica em segundo lugar temporariamente, vamos descobrir que nos doando, na realidade, estamos fortalecendo o nosso sentimento de força interior.

Podemos perceber dentro de um relance momentâneo, que perguntas outrora formalizadas no âmbito da revolta e da não aceitação, poderiam ser transformadas em outras , mais complexas e profundas:

– Será que deixei de amar ou valorizar alguém em especial? Soube perdoar, não permitindo que a mágoa e a revolta invadissem meu coração? O que preciso aprender com isto que está me acontecendo? Tenho certeza de que os motivos ocultos podem ser muitos e a resposta estará, com certeza, dentro da consciência de cada um de nós.

No decorrer da vida, tenho observado que cada pessoa tem o seu processo pessoal de dor ou sofrimento, porém, através da minha experiência pessoal, posso dizer que a principal coisa que tenho aprendido é a de ser menos rígida comigo mesma e com os outros.
Pessoas rígidas estão sempre se impondo limites, muitas vezes porque, na verdade, não se sentem capazes de ultrapassarem os seus próprios, sempre se escondendo atrás de regras que as fazem permanecer no mesmo lugar, onde tudo é conhecido e seguro, ainda que extremamente limitador.
Hoje, tendo esta consciência mais ampliada, percebo que atrás de toda minha rigidez estava a minha não aceitação da naturalidade da vida, que por si só muda a cada momento.

Aprendi que não importa deixarmos algumas pendências para amanhã – ele sempre irá nos esperar. Estou aprendendo que não importa o quanto tenhamos dificuldade de vivenciar o verdadeiro amor em sua amplitude, nunca é tarde demais para conquistá-lo, ainda que seja através da dor ou do sofrimento...

A lição que fica para mim, se traduz numa célebre frase de Sócrates: “ Transforma as pedras que você tropeça nas pedras da sua escada”.